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Memória social e ecologia histórica: a agricultura de coivara das populações quilombolas do vale do Ribeira e sua relação com a formação da mata atlântica local

Munari, Lucia Chamlian

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Biociências 2010-01-28

Acesso online. A biblioteca também possui exemplares impressos.

  • Título:
    Memória social e ecologia histórica: a agricultura de coivara das populações quilombolas do vale do Ribeira e sua relação com a formação da mata atlântica local
  • Autor: Munari, Lucia Chamlian
  • Orientador: Murrieta, Rui Sergio Sereni
  • Assuntos: Agricultura De Corte E Queima; Quilombola; Paisagem; Memória Social; Mata Atlântica; Vale Do Ribeira; Ecologia-História; Coivara; Social Memory; Slash And Burn Agriculture; Ribeira Valley; Quilombola Communities; Atlantic Rainforest; Landscape; Historical Ecology
  • Notas: Dissertação (Mestrado)
  • Descrição: A Mata Atlântica é um dos biomas mais biodiverso e ameaçados do planeta. Grande parte de seus remanescentes está localizada no Vale do Ribeira (SP), onde se encontra a maioria das populações quilombolas do estado. Os quilombos do vale surgiram de povoados formados por escravos abandonados, fugidos e alforriados que vem ocupando o vale desde o início da colonização européia na região, no século XVI. A principal estratégia de subsistência destas populações ao longo dos séculos foi a coivara, sistema agrícola capaz de conferir grande heterogeneidade à paisagem florestal. Entretanto, nas últimas décadas, a coivara tem sofrido um processo de transformação, devido a fatores como: o aumento demográfico, o avanço da economia de mercado, a implantação de leis ambientais e políticas desenvolvimentistas. O objetivo deste estudo é compreender como a coivara contribuiu para a formação da paisagem florestal na comunidade de remanescente de quilombo de São Pedro, no vale do Ribeira. A construção de uma narrativa histórica dos processos que contribuíram para as transformações deste sistema auxilia na compreensão das mudanças nos padrões de subsistência locais e de que forma estas se refletem nessa paisagem. Para tanto, levantamos a memória social local, através de técnicas etnográficas e de história oral. Além disso, realizamos trilhas monitoradas para estudar a percepção ambiental das unidades paisagísticas, bem como a configuração espacial das roças e capoeiras. Com a aplicação de tais métodos, pudemos constatar que no passado, a abertura de clareiras para o cultivo dependia de uma série de fatores: a disponibilidade de capital social para o trabalho, a demanda familiar para a produção de alimento e as relações econômicas com o mercado regional. Ao mesmo tempo, a lógica de ocupação da paisagem era fruto da associação entre o conhecimento da dinâmica ecológica local e normas sociais estabelecidas. A unidade doméstica, composta pela casa de fora e pela capuova, foi a expressão material mais constante da agência humana na paisagem. Os processos de transformação da coivara se iniciaram na década de 1950, com a construção de rodovias e consequente diminuição do isolamento regional. A partir disso, a intensificação do corte de palmito e o estabelecimento da pecuária com a chegada dos grileiros, na década de 1970, levaram ao redirecionamento das atividades econômicas. Por consequência, ocorreu a diminuição da área das unidades agrícolas e do número de áreas sob cultivo. A partir da construção de uma escola no bairro, nos anos 70, ocorreu a concentração das residências em vila, que estimulou a concentração das unidades de cultivo ao redor. A intensificação da fiscalização ambiental na região, nos anos 80, passou a restringir as atividades locais de subsistência. Como resultado, observamos que duas tendências podem ser observadas atualmente: segmentação e homogeneização da paisagem em áreas destinadas ao manejo, por um lado, e o estabelecimento de uma formação de floresta madura, não mais passível de derrubada, por outro. Tal tendência pode resultar na diminuição da complexidade estrutural e da dinâmica ecológica da floresta local. Concluímos que, apesar da nova configuração espacial da coivara e da tendência à segmentação, a criação de pastagens e a extração de palmito parecem ser mais impactantes para a fragmentação da paisagem florestal. Por conta das mudanças levantadas, atualmente a população de São Pedro se depara com o desafio de combinar as restrições ambientais à necessidade de produzir itens com valor de mercado. Somado a isso, precisam reorganizar o trabalho coletivo e reformular a concepção local da paisagem e o seu uso para garantir, no futuro, sua permanência neste território.
  • DOI: 10.11606/D.41.2010.tde-07032010-134736
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Biociências
  • Data de criação/publicação: 2010-01-28
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

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