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Pelo olho mágico de Estorvo: forma e processo social no primeiro romance de Chico Buarque

Alencar, João Vitor Rodrigues

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas 2022-10-21

Acesso online. A biblioteca também possui exemplares impressos.

  • Título:
    Pelo olho mágico de Estorvo: forma e processo social no primeiro romance de Chico Buarque
  • Autor: Alencar, João Vitor Rodrigues
  • Orientador: Pacheco, Ana Paula Sá e Souza
  • Assuntos: Literatura E Sociedade; Chico Buarque; Estorvo (Literatura); Literatura Brasileira Contemporânea; Psicanálise; Psychoanalysis; Literature And Society; Contemporary Brazilian Literature; Turbulence (Literature)
  • Notas: Tese (Doutorado)
  • Descrição: De modo geral, o público de Chico Buarque estranhou a dificuldade experimentada durante a leitura de seu primeiro romance, Estorvo (1991). Em prosa simples e relativamente coloquial, uma série de episódios intrincados atropelam o leitor. A complicação se encontra tanto nas circunstâncias em que tais peripécias se desenrolam quanto na maneira tresloucada como o narrador as apresenta. Realidade, sonhos, devaneios e lembranças se misturam na sequência dos acontecimentos, nos quais não há sequer a garantia de ordem cronológica. Nestes episódios um herdeiro relativamente empobrecido e mais ou menos dissidente em termos políticos nos conta como, pouco tempo depois da redemocratização do país, acabou participando da chacina da arraia-miúda dos mercados ilegais que estava ocupando o sítio de sua família, extermínio promovido por figuras do Estado a mando dos mesmos parentes ricos que sustentam o protagonista através do favorecimento de empréstimos financeiros - e, para complicar ainda mais, de quem ele havia roubado joias que foram vendidas naqueles mesmos mercados. A forma quase corriqueira com que a voz narrativa flui entre registros e situações tão conturbados nos coloca uma série de questionamentos. Como explicar que um compositor tão relacionado ao popular tenha escrito um romance tão fácil de ler e difícil de compreender? Trata-se de um defeito na feitura literária? Existe algum sentido implicado nesse hermetismo fluente? Se sim, qual sua amplitude social e especificidade histórica? Parte da crítica julgou a narrativa pelo seu aparente nonsense, mais preocupada em descrever minuciosamente o disparate das cenas isoladas do que em narrá-las através de uma história que as abrangesse de modo coerente. Em sentido contrário, pretendo demonstrar que é na montagem estabelecida pelo conjunto dessas cenas aparentemente despropositadas, em que o narrador é flagrado em suas complicadas relações com as circunstâncias reais ou imaginárias que compõem as situações narrativas, que devemos buscar o significado, a dimensão e a minúcia do relato. Pois nessa forma de narrar, que parece mas não é absurda, está implicado um jogo de perspectivas que reproduz, com rigor literário, a lógica social que envolve conflitos decisivos do Brasil pós-golpe militar, ainda que esses conflitos estejam embaralhados pelos deslocamentos promovidos por compensações imaginárias e precisem ser recompostos pelo leitor. Foi o estado de exceção instituído por esse golpe e perpetuado no período democrático que, através do extermínio e da exploração promovidos pela elite, determinou a inserção do país na marcha contrarrevolucionária do capitalismo contemporâneo. É esse o horizonte histórico e social que nos permite determinar tanto a limitação da perspectiva do narrador quanto a amplitude dos materiais presentes no que ele involuntariamente narra, possibilitando assim a interpretação dos sentidos concretos do romance em suas verdadeiras dimensões.
  • DOI: 10.11606/T.8.2022.tde-05052023-112256
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
  • Data de criação/publicação: 2022-10-21
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

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