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Vivendo uma conjugalidade insubordinada: narrativas de casais cis-trans e casais transcentrados

Alexandre, Vinícius

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto 2020-12-08

Acesso online. A biblioteca também possui exemplares impressos.

  • Título:
    Vivendo uma conjugalidade insubordinada: narrativas de casais cis-trans e casais transcentrados
  • Autor: Alexandre, Vinícius
  • Orientador: Santos, Manoel Antonio dos
  • Assuntos: Conjugalidade; Transexualidade; Teoria Queer; Gênero; Teoria Fundamentada Nos Dados; Queer Theory; Grounded Theory; Gender; Conjugality; Transsexuality
  • Notas: Dissertação (Mestrado)
  • Descrição: Nas últimas décadas, a agenda de pesquisas cientificas tem ampliado seu interesse em produzir estudos que destacam pessoas trans e travestis como objeto de interesse. As ciências médicas, desde o século passado, têm se dedicado a estudar a transexualidade a partir de uma perspectiva biológica, na qual o corpo é o principal recorte de pesquisa, em um viés patologizante. Nesse vértice empobrecido, pessoas trans e travestis são enquadradas em uma categoria diagnóstica que lhes outorga o \"rótulo\" de indivíduos mentalmente doentes. A presença da transexualidade em manuais diagnósticos de transtornos mentais é um reflexo dessa perspectiva. Dentre os inúmeros esforços teóricos e militantes que emergiam para se oporem a essa tendência, a Teoria Queer ganhou destaque já a partir da década de 1990. Um dos princípios fundamentais que norteiam os estudos queer afirma que a concepção de gênero não deve ficar restrita ao corpo biológico do indivíduo, de maneira que a crença de que a anatomia define imutavelmente os conceitos de \"homem\" e \"mulher\" é completamente equivocada. Na visão das/os teóricas/os queer, o gênero tem uma característica instável e sujeita a inúmeras influências ao longo do ciclo vital. A partir dessa perspectiva, é proposta uma desconstrução da ideia preconcebida de identidade de gênero por meio do questionamento da polarização do gênero, a qual limita a experiência identitária ao binarismo \"homem-mulher\". O binarismo de gênero produz identidades não-inteligíveis para todos os sujeitos que vivenciam identidades de gênero e conjugalidades não polarizadas, ao mesmo tempo em que o dispositivo Heteronormatividade relega essas mesmas identidades e conjugalidades a uma zona de apagamento social. Como efeito direto desse regime de poder, as conjugalidades que envolvem pessoas trans e travestis, sejam elas conjugalidades cis-trans ou transcentradas, são negligenciadas tanto pelo contexto social como pelo meio científico. Considerando esses pressupostos, este estudo teve por objetivo investigar as narrativas de casais cis-trans e casais transcentrados. Trata-se de um estudo qualitativo, transversal e exploratório, que tem como referencial teórico a Teoria Queer e o conceito central de Heteronormatividade. O referencial metodológico adotado foi a Teoria Fundamentada nos Dados (TFD). Para a construção do corpus de análise foram entrevistados três casais cis-trans, um casal transcentrado e uma travesti envolvida em uma conjugalidade transcentrada. As entrevistadas narrativas episódicas foram conduzidas a partir de questões que buscaram circunscrever os significados que os casais atribuem aos seus relacionamentos, incluindo a dinâmica conjugal, os desafios diários para preservar o relacionamento e os planos para o futuro. Quatro entrevistas foram realizadas de forma simultânea com ambos os/as cônjuges e uma entrevista foi realizada isoladamente com uma colaboradora. As entrevistas ocorreram em situação face a face, com duração entre 56 minutos a 231 minutos, e foram audiogravadas mediante autorização. Após a coleta de dados, o conteúdo das entrevistas foi transcrito literalmente e na íntegra. Posteriormente, seguindo os procedimentos da TFD, os dados foram analisados e dessa análise emergiram 12 categorias temáticas, as quais foram organizadas em torno do fenômeno central \"Vivendo uma conjugalidade insubordinada\", em um modelo paradigmático de análise. Os resultados mostraram que as conjugalidades cis-trans e transcentradas enfrentam inúmeras adversidades em suas trajetórias. A transfobia, até então vivida apenas pelos parceiros trans e pelas parceiras travestis, demonstrou potencial para afetar também seus/suas parceiros/as cis. Esse fenômeno constantemente pressiona os casais para uma zona de marginalidade social, uma vez que seus relacionamentos são classificados como ilegítimos e seu direito de amar e vivenciar a conjugalidade não é reconhecido. Diante dessas circunstâncias, revoltar-se contra o regime de poder heteronormativo não é apenas uma questão de desejo, e sim de necessidade de resistir e afirmar suas existências. Estre as formas de insubordinação identificadas, destacam-se os enfrentamentos e a rejeição das/os participantes a uma parcela de suas famílias e de suas amizades. Também se evidenciou a preocupação com a segurança e integridade pessoal, que gera a necessidade de analisar previamente os locais que frequentarão, uma vez que nem todos os espaços públicos toleram a presença de indivíduos que subvertem as normas do sistema sexo/gênero. No entanto, os atos de insubordinação também envolvem momentos de criação, quando novas formas de viver podem ser geradas. Com a ajuda da parcela receptiva de suas famílias, das/os amigas/os, da fé, da luta militante e, fundamentalmente, das/os parceiras/os, elas/es se fortalecem e novas experiências de conjugalidade emergem. Essas novas conjugalidades são dotadas de especificidades e têm potencial para se sustentarem e terem longa duração. Espera-se que o conhecimento produzido neste estudo possa contribuir para o desenvolvimento de abordagens culturalmente sensíveis à diversidade e que os profissionais da saúde que atendem à população trans/travesti possam repensar suas concepções sobre os relacionamentos afetivos e as dimensões multifacetadas do gênero e da sexualidade. Espera-se que sejam capazes de perceber que, aquilo que é propagado como conjugalidade normal, é uma construção circunstancial e e que a normalidade é uma construção exclusivamente contextual e que é redescrita continuamente nos moldes que melhor se adaptem às existências humanas individuais.
  • DOI: 10.11606/D.59.2020.tde-14022021-215819
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto
  • Data de criação/publicação: 2020-12-08
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

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