skip to main content

Moisés e Nilce: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas

Costa, Fernando Braga Da

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia 2008-03-28

Acesso online. A biblioteca também possui exemplares impressos.

  • Título:
    Moisés e Nilce: retratos biográficos de dois garis. Um estudo de psicologia social a partir de observação participante e entrevistas
  • Autor: Costa, Fernando Braga Da
  • Orientador: Goncalves Filho, Jose Moura
  • Assuntos: Etnografia; Garis; Psicologia Social; Ethnography; Social Psychology; Street Cleaners
  • Notas: Tese (Doutorado)
  • Descrição: A composição desta pesquisa desenvolvese em dois sentidos complementares: 1. observação participante, segundo o regime de uma pesquisa etnográfica; 2. histórias de vida, obtidas através de relatos orais. Este trabalho visa dar seqüência à dissertação de mestrado defendida em 2002 e que, para sua realização, supôs o desempenho do ofício de gari dez anos, semanalmente (um ou dois dias). Estabelecer um diário de campo, descrever fenômenos psicossociais e interpretá-los foram os objetivos gerais da pesquisa anterior. A investigação no mestrado quis estimar traços sociais e psicológicos assumidos por uma forma de trabalho não-qualificado e subalterno: o trabalho de garis. Discutimos problemas de humilhação social ali reconhecíveis, especialmente aquele então designado como invisibilidade pública (problema singular que polarizou toda a investigação). O pesquisador testemunhou muitas vezes o fato de que os garis não simplesmente padeciam pancadas de humilhação social, mas respondiam aos golpes: ressentindo, conversando e agindo. As ações nunca alcançaram a figura plena de reações coletivas politicamente organizadas. Entretanto, os sentimentos, as opiniões e atitudes testemunhados mostraram-se de tal modo significativos que o pesquisador não pôde deixar de, todo tempo, também assinalar a resistência e o ponto de vista daqueles trabalhadores. O diário de campo e seu estudo, os dados obtidos e sua discussão serviram como importantes balizas para definição da etapa atual de pesquisa. O mestrado iniciou-se reconhecendo um problema vinculado ao antagonismo de classes, o que conduziu à orientação de um estudo encorpado por preocupações que tomavam os sujeitos um a um, mas, de qualquer maneira, tendo como objetivo testemunhar e ouvir o que os garis pessoalmente e como grupo social poderiam nos ensinar sobre o fenômeno da invisibilidade pública. A realização e o aprofundamento da pesquisa e, sobretudo, os vínculos pessoais de amizade estabelecidos entre mim e os garis foram deslocando cada vez mais minha atenção: a atenção para o que é retirado deles, política e moralmente, foi sendo ultrapassada pela atenção para o que eles trazem. Neste doutorado, escolhemos como regime metodológico aquele que se propõe obter histórias de vida através de relatos orais. Aqui, nossos autores de referência foram especialmente Ecléa Bosi e José Moura Gonçalves Filho. Situações crônicas de disparidade social e econômica, em geral fundadas sobre vínculos de mandonismo e subalternidade, prejudicam e até mesmo interrompem o poder de comunicação que é próprio aos seres humanos. Todos calam. Ninguém conversa. A comunicação retrai-se. Acabamos habituados às conversas magras e pálidas, anoréxicas. É porque ficamos todos nós também anoréxicos, recusando o sabor dos outros azedume ou doçura, não importa sem que seja possível alimentar-se da presença do outro. A conversa econômica, magra por assim dizer, é resultado de olhar estreito também magro que no mundo mercantil admitimos, em geral, anestesiados. Na sociedade de classes, deslocar-se para o lado dos oprimidos é o que possibilita enxergar o mundo de um lugar diferente do meu, um lugar o mais próximo possível do ponto a partir do qual a vida se abre para meu interlocutor. É aqui, finalmente, que podemos conversar. Conversa livre tensa ou não, não importa. Conversar é o que pode mudar meus sentimentos e imprimir marcas em minhas ações, pode me fazer recuar. Pode me fazer contestar o que antes eu considerava óbvio, pode me deixar inseguro sobre minhas convicções. Mas pode, sobretudo, inspirar simpatia entre eu e o outro. Escolhemos entrevistar Nilce e Moisés, exgaris aposentados pela Universidade de São Paulo. Entrevistá-los representa o intuito de fazer retratos, é a tentativa de fotografá-los por meio das suas vozes com o máximo de fidelidade possível. É o rosto deles que deve aparecer. O sentido primeiro da tarefa a que me propus é que o leitor possa relacionar-se com os depoentes que vão lhe falar. Desejo que o leitor tenha o sentimento de estar ele próprio frente a frente com meus amigos garis. Para tanto, as entrevistas não foram amarradas por perguntas seguidas de perguntas que já indicassem respostas pretendidas. Foi preciso não pretender senão as narrativas de Nilce e Moisés. O tom de voz, as pausas, os lapsos, as contradições, os esquecimentos. O riso e o choro. Tudo contou. Nada foi dispensado. Passado para o papel, o depoimento configurou-se como uma espécie de debate, uma discussão viva confrontando a lembrança do depoente com nossa própria lembrança e discussão do fenômeno, confrontando-as também com autores dedicados ao tema. Uma tese possível deverá ser sempre o que houver decididamente percorrido a memória do fenômeno e o diálogo alargado.
  • DOI: 10.11606/T.47.2008.tde-09012009-154159
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia
  • Data de criação/publicação: 2008-03-28
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

Buscando em bases de dados remotas. Favor aguardar.