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O enigma plural do gênero

Carvalho, Ivy Semiguem Freitas De Souza De

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia 2023-09-15

Acesso online

  • Título:
    O enigma plural do gênero
  • Autor: Carvalho, Ivy Semiguem Freitas De Souza De
  • Orientador: Ribeiro, Marina Ferreira da Rosa
  • Assuntos: Gênero; Laplanche; Mito-Simbólico; Pluralidade; Teoria Da Sedução Generalizada; Gender; Myth-Symbolic; Plurality; Theory Of Generalized Seduction
  • Notas: Tese (Doutorado)
  • Descrição: Com base em uma perspectiva psicanalítica, esta tese busca localizar e analisar as expressões da diversidade de gênero na atualidade, concentrando-se principalmente nas criações culturais nos meios digitais. Encontramos hoje uma multiplicidade de expressões de gênero que vão além da binaridade, entre eles, os transgêneros, os boycetas, as travestis, os gêneros fluidos, os agêneros, entre muitos outros. Cada um à sua maneira, essas expressões desafiam e colocam questões à psicanálise, fortalecendo uma longa e complicada controvérsia sobre se o conceito de gênero deveria ou não ser incorporado em sua teoria a partir de um estatuto próprio. Nesse entremeio, uma posição favorável é aquela que aparece na perspectiva da Teoria da Sedução Generalizada, forjada por Jean Laplanche. Para ele, tal inserção estaria justificada de antemão pelo fato de que o gênero é um assunto presente na obra freudiana, mesmo que em suas entrelinhas. O exercício que de fato cabe à psicanálise seria o de abrir um diálogo com formulações advindas da sociologia e, mais ainda, retrabalhar o conceito à luz da sexualidade e do inconsciente. Tarefa esta que Laplanche leva adiante ao propor que o gênero é primeiro e plural, o sexo é o simbolizador dual e o Sexual pulsional é a multiplicidade residual do recalcamento do gênero pelo sexo. Nesta pesquisa, além de explorar essas colocações, procuramos investigar os desdobramentos culturais da relação pluralidade versus binaridade de gênero. Isso foi realizado a partir do conceito que Laplanche chamou de mito-simbólico, códigos coletivos de simbolização que seguem em constante mutação. Inclusive, criticando que a psicanálise tentou impor um único mito falocêntrico como roteiro normativo da sexualidade, o autor faz o convite para investigarmos as formações e roteiros que encarnam a função mito-simbólica hoje em dia e no Ocidente. Levamos adiante esse convite e investigamos determinadas narrativas contemporâneas que parecem endossar um movimento de abertura dos códigos de simbolização cultural das diferenças/diversidade de gênero. Para tanto, recorremos às mídias virtuais, mais especificamente, a conteúdos produzidos por youtubers e digital influencers que abordam a temática LGBTQIAP+ no contexto nacional, muitos dos quais se fundamentam nos pressupostos das teorias feministas e Teoria Queer. Identificamos três categorias de análise a partir do entendimento de que a revolução das tecnologias transformou as tradições da comunicação e gerou um mito-simbólico que desvincula o universal do totalizável suscitando uma pluralidade de códigos de tradução, ao mesmo tempo em que vão além de um mito Uno generalizável. Estas categorias foram fundamentadas nos três eixos tradutivos que oferecem estabilidade e sustentação ao Eu em relação à forma, ao conteúdo e ao sentido ontológico existencial. A primeira está relacionada ao conteúdo de gênero, ou seja, aos sistemas mito-simbólicos e códigos de gênero construídos culturalmente. Nesta análise destacamos como Laplanche identifica a existência de uma gramática de tradução, fornecida pelo socius, específica para os conteúdos de gênero. A partir disso, fazemos a transição da linguagem dos gêneros para os gêneros repensados na linguagem, refletindo sobre as reivindicações propostas pela linguagem inclusiva e pelo uso do pronome neutro. A segunda categoria diz respeito à constituição subjetiva da forma, um modo de conexão que impõe limites à desordem pulsional por meio da tradução corporal. Nesta análise, discutimos a constituição autoerótica e a sua relação com o recalque originário e a tópica da clivagem. Ao considerar dois registros do autoerotismo um de natureza corporal, enraizado no inconsciente encravado, e outro de natureza psíquica pulsional, presente no inconsciente recalcado propomos que a construção narcísica do corpo seja pensada como um processo mais aberto, permitindo a reavaliação das primeiras marcas e a reorganização posterior do circuito autoerótico libidinal do corpo, sem a necessidade de um ideal totalizador. Para fundamentar a última categoria de análise, o terceiro eixo refere-se à dimensão ético-existencial ontológica que envolve o reconhecimento da individualidade do outro como sujeito marcado por suas próprias características e direitos. Nesta análise, questionamos se a prática hegemônica de sexuação, forjada pelo roteiro hetero-cis-falocêntrico de repetição do idêntico, não seria sintomática e perversa (conforme as definições de McDougall, Bleichmar e Riveira). Enfatizamos como o verdadeiro reconhecimento implica em uma transformação mútua. Dessa forma, reconhecer que também somos desconstruídos uns pelos outros, implica assumir a posição de \"guardião do enigma\" como proposto por Laplanche, na qual aceitar o desconhecido do outro requer aceitar o estranho plural que também habita em nós. Por fim, propomos uma interpretação da manifestação cultural desses eixos e dos desafios da transformação mito-simbólico por meio da análise do filme XXY. Para desfecho da tese, o último capítulo procura ilustrar os desafios na construção do eixo ontológico em sua interseção com o eixo do corpo e do gênero. A auto decifração da intersexualidade enfrentada pela personagem principal, que ocorre sem recorrer a um código tradutivo genitalista, permite-nos defender que, por meio das relações intersubjetivas com seus pares, ocorre a construção de uma dimensão ética do cuidado na tradução de si.
  • DOI: 10.11606/T.47.2023.tde-08122023-155222
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Instituto de Psicologia
  • Data de criação/publicação: 2023-09-15
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

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