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Mulheres transexuais do Candomblé Ketu em Ribeirão Preto-SP: costuras identitárias na interface com a saúde mental

Gaia, Ronan Da Silva Parreira

Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto 2021-02-19

Acesso online. A biblioteca também possui exemplares impressos.

  • Título:
    Mulheres transexuais do Candomblé Ketu em Ribeirão Preto-SP: costuras identitárias na interface com a saúde mental
  • Autor: Gaia, Ronan Da Silva Parreira
  • Orientador: Comin, Fabio Scorsolini
  • Assuntos: Análise De Gênero; Transexualidade; Saúde Mental; Religião; Cultura; Mental Health; Gender Analysis; Religion; Culture; Transsexualism
  • Notas: Dissertação (Mestrado)
  • Descrição: Historicamente marginalizado no Brasil, o Candomblé é tido por muitos de seus adeptos como uma religiosidade/espiritualidade/ancestralidade inclusiva e acolhedora, sendo que notadamente é possível encontrar mulheres transexuais praticantes da religião. Todavia, o Candomblé apresenta uma problemática ainda latente: o fato de se basear no sexo biológico e não na orientação de gênero de seus adeptos. Assim, o objetivo central desta Dissertação foi investigar como mulheres transexuais do Candomblé expressam e corporificam a questão do gênero em suas práticas religiosas. Adicionalmente, objetivou-se compreender se e como a relação com a religiosidade/espiritualidade/ancestralidade afro-brasileira pode promover sofrimento psíquico nessas mulheres. Tratou-se de um estudo de caso coletivo, exploratório, de corte transversal, amparado no referencial dos estudos de gênero. Foram entrevistadas três mulheres transexuais iniciadas e praticantes de terreiros de Candomblé da cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. As entrevistadas foram conduzidas a partir de questões que buscaram estabelecer a relação entre identidade de gênero e trajetória das participantes no candomblé. As entrevistas ocorreram de forma distinta, sendo uma presencial, uma pelo aplicativo Google Meet e outra pelo WhatsApp Web, tendo em vista a pandemia da COVID-19, com duração entre 59 e 83 minutos, e foram audiogravadas mediante autorização verbal. Participaram da pesquisa três mulheres trans iniciadas no candomblé para os seguintes orixás: Oya, Oxalufon, Oxum. A primeira participante tem 48 anos de idade e 22 anos de iniciada no candomblé e é Ìyáwó, se autodeclara mulher, parda, possui Ensino Fundamental e é costureira. A segunda participante tem 43 anos de idade e 21 anos de iniciada no candomblé e é Babakekere, se autodeclara mulher transformista, preta, com Ensino Superior e atua como Enfermeiro. Já a terceira participante tem 24 anos de idade e 16 de iniciada no candomblé, se autodeclara mulher, parda com Ensino Superior Incompleto e é Ìyálórìsà. As entrevistas audiogravadas foram transcritas e analisadas na íntegra, sendo codificadas a partir de procedimentos de análise de conteúdo temático reflexivo. O corpus foi constituído pelas entrevistas transcritas e pelas narrativas em diário de campo, interpretados a partir do referencial dos estudos de gênero. Foram evidenciadas, a partir dos relatos das participantes, a relação entre fé, religiosidade/espiritualidade/ancestralidade no candomblé e as relações de gênero, sendo que a primeira participante relatou não frequentar na condição de filha de santo nenhum outro terreiro de candomblé, mas ser candomblecista e frequentar terreiros na condição de amiga dos dirigentes religiosos. De acordo com a mesma, quando foi iniciada precisou assumir sua identidade biológica mesmo com seu Babalorixá sendo homossexual. A segunda participante possui um posto masculino no terreiro em que frequenta e relata assumir sua identidade biológica no terreiro e no trabalho. No terreiro por opção e no trabalho pela necessidade de proteção, assumindo assim a dualidade entre suas identidades corporificadas, mas relata que mesmo quando assume sua identidade biológica (através do uso de nome e roupas culturalmente consideradas como masculinas) continua sendo e se sentindo mulher. Por fim, a terceira participante relata que assumiu sua identidade trans há aproximadamente um ano. Segundo a participante, a maior dificuldade que encontrou para se assumir como pessoa trans foi o medo da violência e transfobia que sofreria pela sociedade. Mas, segundo ela, pelo fato de ter nascido em uma família candomblecista e seu pai ser homossexual não houve dificuldade em se assumir como mulher trans no candomblé, sendo que, diferente das demais participantes que já se iniciaram no candomblé na condição de mulheres, a terceira participante \'descobriu-se\' mulher quando já era dirigente religiosa do terreiro de sua família. Foi identificado que, para as mulheres participantes deste estudo, sentir-se mulher se sobressai à necessidade de vestir-se como mulher. Igualmente, esse fato evidencia que os terreiros de candomblé compõem uma potente rede de acolhimento à população trans e que a cosmogonia yorubá não pode ser interpretada como sendo transfóbica, mas os sujeitos que reproduzem os ritos e procedimentos desta cultura podem apresentar dinâmicas potencialmente transfóbicas.
  • DOI: 10.11606/D.22.2021.tde-07052021-152621
  • Editor: Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP; Universidade de São Paulo; Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto
  • Data de criação/publicação: 2021-02-19
  • Formato: Adobe PDF
  • Idioma: Português

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